quinta-feira, 7 de abril de 2011

No meio do caminho


No meio do caminho o Benedito chora por mais uma decepção com a Catarina, que ao encontro marcado, falou pela segunda vez consecutiva. Apaga seu cigarro, vai ao bar da eqüina e “desabafa” a “geladinha”, mal sabendo que é exatamente por causa desse vícios que Catarina hesita em investir nesse idílio amoroso. Assim, Benedito fica a curtir, com seus vícios, a dor e a desilusão.

O menor abandonado está cumprindo sua faina diária de coletar seu pão de cada dia, rejeitado pelos maiores abandonados, enquanto a madame da mansão próxima à praça pede ao mordomo que não se esqueça de comprar, no supermercado, o filé para o seu buldogue.

No meio do caminho o padre deixa o viajante que lhe pedira carona na rua principal, em busca de dias melhores estrada afora. E o homem, anônimo, segue com sua trouxa à sorte futura.

A escrava branca sai de sua “senzala” para satisfazer aos desejos índimos do Executivo, pagos ao esposo da cafetina. Deixa, com sangue e horror, os seus treze anos de puberdade à mostra, e logo, após refeito o deleite, ele vai rumo à sua casa, e sua amada esposa espera-o dando-lhe um beijo apaixonado, acompanhada de beijos carinhosos de suas duas filhas adolescentes, que se preparam para o próximo baile de “debut”.

No meio do caminho os arrombadores param. A luz apagada, silêncio total, e dividem o produto do trabalho na calada da noite. E os fardados, nesse momento, vomitam velocidade, ao encalço dos facínoras, mais com intenção de apagá-los do mapa.

No meio do caminho um carro está parado, pneu furado, motorista terrivelmente furioso, e mais furioso o passageiro do táxi, que tinha o inadiável compromisso de entregar os religiosos cartões da loto na agência próxima.

Tudo acontece diferente, com pessoas diferentes, no meio do caminho. Se os espaços pudessem falar e ao mesmo tempo acusar, contariam tantas e tantas histórias que acontecem no meio do caminho.

Eu também estou no meio do caminho. Olho e ouço o barulho ensurdecedor da máquina de escrever, somado à poluição dos carros, e às verborréias dos transeuntes anônimos. Ouço a distante música suave e serena da Fm distante.

Talvez a atenção das mulheres, logo adiante, apreciando um dos últimos capítulos da novela global das vinte horas, justifique tanto barulho longe.

Acho que vou parar por aqui, continuando depois. Que conclusão tirar deste texto idiota? Qualquer uma, de maneira que não me forcem a reescrevê-lo. E por ora, deixo-o... no meio do caminho.

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