terça-feira, 26 de julho de 2011

Nossas opiniões


Quantas vezes fazemos um juizo baseados numa opinião? Em quantas ocasiões podemos estar certos em sermos sinceros? Para falar a verdade, raríssimas vezes. Quase todos nós julgamos muito superficialmente, sem levarmos em conta os fatores internos e externos que atuam sobre nossas resoluções. Se transferimos a alguém certo traço de caráter, podemos estar certos de que o fazemos em nossa pessoas. A nossa simpatia pelas outras criaturas depende do grau em que elas se parecem conosco, sob o ponto de vista psicológico.

Fazemos uma imagem de uma pessoa comparando-a conosco, tendo em vista as nossas aspirações ou os nossos ideais, simpática ou antipágica. Nada mais longe da imparcialidade do que isto. E os fatores externos? Falamos mal de alguém na sua presença? Por mais alegres que estejamos, rimos à beira de um sepulcro? E mesmo numa atmosfera carregada de partidarismo exagerado e pernicioso, ousamos demonstrar as falhas e injustiças?

Portanto, nada mais exagerado e incerto do que ouvir uma opinião como sendo uma resolução partida da alma e isenta de parcialidade. Consciente ou inconsciente, ninguém é neutro em assunto algum. Devemos tomar partido e, violenta e suavemente, lutar por eles? Como as idéias nos influem? Como aceitamos uma e repelimos outra? A resposta está na formação de nossa personalidade. Nesta formação o ambiente é fator importantíssimo. Se a uma criança são exaltados os direitos da força e a ambiência o reforçando, podemos imagina-la crescida, lutando pela força do direito? A um homem provinciano e educado sobre os princípios religiosos, podemos conceber e admitir sinceramente os costumes licenciosos de nossas grandes metrópoles?

Se compreendemos quanto são tantos e variados os fatores que fazem alterar uma opinião, por que acatar ou criticar com tamanha vivacidade qualquer coisa? Desconfiemos, portanto, dos nossos pré-julgamentos sobre as nossas necessidades e descubramos os motivos ocultos que nos levam a faze-los. A grande maioria julga que ter a opinião de ouvir o que uma pessoa, compreende justo e certo numa coisa ou criatura. Não há dúvida, isso em parte é verdade. Mas o que julgam certo é que a reunião de várias opiniões comprova que certo fato é verdade ou está errado.

Somente o que isso pode provar é que os julgadores estão mais ou menos em igualdade de preconceitos. Se, como queremos demonstrar, as opiniões não são frágeis, e seus pontos de apoio são fáceis de destruir, como não serão os atos que derivam dos juízos e opiniões? Em vista disso, não afirmamos categoricamente sobre a questão profundamente, levanto sempre em conta a relatividade do juízo, a forma. Eis uma maneira de encarar a vida que nos facilitará chegar à compreensão da Ciência da Natureza e nos suavizará o caminho pela vida. (Publicado no Jornal do Dia, edição de 18 de julho de 1991)

domingo, 3 de julho de 2011

Parar para não pensar


Esta é a sina do homem moderno. Não parar, correr, correr sempre, porque parando talvez pense em algo que não adianta pensar; e não irá o homem, decerto, mudar o mundo. Pensar no estranho fim de Kennedy, Luther King, Gandhi, Vinoba. Pensando, quiçá, não o aceite e se revolte e, sentindo que não adianta revoltar-se diante do inevitável, talvez chore, e um homem não pode chorar... (será que não? Somente crianças choram?).

É preciso correr... correr para o trabalho, correr para casa, ligar o televisor, sofrer pelas visitas de cobradores e não ter o que pagar a eles... tomar um trago. É preciso embotar o cérebro de algum modo; com qualquer coisa que não seja pensar. O lema atual é não parar para não pensar... para não chorar. Há tanta coisa no mundo que não se pode compreender. Não compreendemos, embora tentemos, por que aquele homem que numa briga matou outro, foi preso, enquanto que outros, na guerra, atiram bombas num contingente de soldados, que nem os tinham visto, e foram eles condecorados. E os chamaram de heróis. Foi um crime premeditado, e na tocaia, como covardes,eles mataram uma centena e não foram presos.

Quanta coisa foge à nossa compreensão. Já existem condições tecnológicas de se fazer transplante de um coração novo em um homem velho; entretanto, milhares de corações crianças param, porque os corpos que os envolvem não receberam alimento suficiente. Outros param porque os hospedeiros, cujos corpos os envolvem, não querem vê-los nascer. E tu, mundo, que giras, giras... também não podes parar? Então, por que não giras depressa, como o homem? Não evolues? Levas 24 horas em teu passeio diário como no tempo de carro-de-boi, da pedra lascada. Vê: estamos na era do jato, do foguete... na era da pressa. Acaso pensas que girando, assim devagar, alguém vai olhar calmamente o nascer de teu sol? Não,não tenha ilusões. O homem não tem mais tempo para isso.

Ele vive correndo, correndo, atrás de algo que nem mesmo sabe, ou atrás de nada. E, quando olha para o céu, nem vê sua lua de prata, não. Ora, uma lua obsoleta, antiquada, “coroa”. Olha, sim, o satélite feito por ele. Gira, gira mundo... Mas gira bem depressa, porque assim devagar podes, sem perceber, parar de olhar e não compreender o que os homens fazem em tua face, que é tão linda, que tem tanto para se admirar. Como o homem, tu não podes parar pois, se parares, talvez penses e, pensando... talvez chores.