quarta-feira, 27 de abril de 2011

Uma lição de Confucio


Confúcio, em chinês Kung-Fu Tse, foi um grande sábio do Oriente. Nasceu presumivelmente, em 551 AC, e faleceu em 478 AC. O respeito extraordinário de que gozava, durante sua vida, fê-lo converter-se, mais tarde, em veneração pública. Originariamente o confucionismo não era uma eligião, mas uma moral familiar, social e estatal, fundada no respeito, amor e obediência. São célebres no mundo todo os aforismos e as lições de Confúcio, atravessando tempos e permanecendo sempre atuais.

Certa vez ele passeava com seus discípulos, quando deparou com uma mulher que chorava amargamente ao pé de um túmulo, no qual estava o corpo de uma criança todo disforme. O sábio chinês apressou os passos em sua direção e mandou que um de seus discípulos o enterrasse.

-- Sua lamentação – disse ele à mãe do menino morto – é a de quem sofreu infortúnio após infortúnio. – E a mulher respondeu:

-- É isso mesmo! Certa vez o pai de meu marido foi morto aqui por um tigre. Aconteceu o mesmo com o meu marido, e agora meu filho morreu do mesmo modo. Estamos sempre com esse fantasma da morte rondando nossas aldeias. É muito sofrimento. Passamos horas e horas sem sono, ou fazendo revezamento para que um dos nós, pelo menos, fique acordado em razão da possibilidade desses tigres aparecerem, e cada vez mais vorazes.

O mestre passou a fitar aquela senhora e os que a acompanhavam, bastante amedrontados. Pensou, refletiu. De repente, com a voz calma e macia de sempre, interrogou a mulher:

-- Já que sua gente está sendo ameaçada pelos tigres, causando todo esse transtorno, por que você não deixa de vez este lugar? Vá ver se encontra outro lugar, cultive a terra, edifique uma casa ou duas, e passe a alojar seus parentes lá!

A mulher, sem pensar muito, respondeu ao mestre chinês:

-- Não podemos sair deste lugar, porque aqui não há governo opressor.

Iluminado, o mestre dirigiu aos seus discípulos e falou com bastante sabedoria:

-- Lembrai-vos, meus filhos: um governo opressor é mais terrível do que os tigres!

sábado, 23 de abril de 2011

O que significa estar bem?


Estar bem não é o suficiente. Sinta-se afortunado.

“Bem” não é uma palavra muito extasiante. É morna.

Sinta-se afortunado – e isso é uma questão de sentimentos.

Você se transforma no que for que sinta e queira.

A responsabilidade é sua.

Se você está se sentindo ótimo, é porque criou isso no passado.

Se você se sente miserável, é obra sua.

Este é o significado quando se diz na Índia: “É seu próprio carma!”.

Carma significa sua própria ação. É o que você faz para si mesmo.

Uma vez que você compreende que é você quem o faz, pode abandona-lo. Depende de você.

Ninguém o está forçando a sentir-se desse modo. A escolha é sua.

Você é quem escolheu assim – talvez inconscientemente, talvez por razões sutis que, na hora lhe parecerem boas, mas que depois se revelaram amargas; de qualquer modo, foi você quem escolheu.

É duro quando é dito que foi você quem escolheu sua miséria, porque o consolo de que é outra pessoa quem a está criando lhe é tirado; nem mesmo isto lhe é permitido...

(Extraído da obra de Bhagwan Shree Rajneesh: O Cipreste e o Jardim, Editora Cultrix

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Sobre o esclarecimento


Um certo monge zen, em busca de aprender sobre a sabedoria e as coisas da vida, aproximou-se de seu mestre e perguntou:

-- Quanto tempo eu levarei para alcançar o esclarecimento, venerável mestre?

-- Dez anos – respondeu o mestre.

-- Tanto tempo? – questionou o jovem monge.

-- Não. Eu me enganei. Você levará 20 anos.

-- Por que é que o senhor continua aumentando o prazo?

-- Pensando bem – concluiu o mestre – no seu caso é possível que sejam 30 anos.

sábado, 16 de abril de 2011

Sobre a dor


Que é a dor? Tanto a dor moral quanto a dor física podem ser qualificadas como “o protesto de uma inteligência contra a destruição”. Porque, na verdade, só sentimos dor quando há alguma alteração natural das partes do nosso ser ou transformação intensa ou contrária ao ato regulador das funções biológicas do nosso corpo.

Portanto, a condição para haver dor é a presença de uma inteligência consciente de sua existência no Universo, como uma unidade responsável por si mesmo, que compreende a necessidade de uma reunião das suas partes num todo homogêneo e indivisível, para o bom ajuste e desenvolvimento de certas forças classificadas como cósmicas, mas ainda desconhecidas em essência e finalidade.

Por isso, dificilmente podemos conceber a dor como um objeto inanimado, simplesmente por não percebermos também uma alma, uma força inteligente que sinta, repudie e impeça a destruição.

A dor moral igual em essência, já varia infinitamente pela diversidade enorme da mentalidade. Não é susceptível de aplicação a todos os organismos que sentem a dor física, porém, conforme a definição, só é concebível onde haja uma inteligência consciente da destruição.

Os seres que classificamos de irracionais só o são justamente por não conhecerem a dor moral; pois como sentirão dor se não têm essa linha de conduta, um sistema preconcebido para verem o mundo, e portanto, uma razão que lhes acicate a consciência ao se desviarem desse caminho?

Portanto, a dor moral é sempre maior do que a linha de conduta mais rígida, permitindo ao indivíduo notar qualquer desvio, e em conseqüência, aumentar a discrepância do erro com a norma adotada.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Amores subterrâneos de uma cidade morena


Em cada esquina de Macapá um rastro de história. Em cada praça um pouco das lembranças que ficaram nas reminiscências. A Praça Veiga Cabral, por exemplo, era a São Sebastião, e mesmo não tendo evento algum em janeiro, era o logradouro presença viva com seu pelourinho, colocado ao lado da bicentenária catedral de São José que, por ironia da história, teve nas argamassas de suas pedras as imposições da mão-ecrava.

Os açorianos chegaram aqui nos idos de 1750, como primeiros colonizadores. Eles se fixaram em um local que hoje já não mais pertence à cidade: Igarapé da Fortaleza, em Santana. Lá, sobre os escombros do Forte de Santo Antonio, idealizaram Macapá e plantaram as primeiras sementes de colonização, tendo como testemunhas as ruínas do forte.

Macapá experimentou, assim, os elementos iniciais de uma cidade morena, presenciando a passagem dos lendários Tucuju que vieram do sul do Pará, fixando residência às proximidades da Lagoa dos Índios, onde viveram por várias décadas.

A cidade também viu passar, nos seus primeiros anos de lactência, o grande Orellana à margem direita do Amazonas, e assim o local passou a se chamar Nueva Andaluzia, em homenagem à terra natal do navegador espanhol.

No inicio do século ela deu guarida aos primeiros atritos políticos, após ter vivenciado os conflitos cabanos. A Revolução Macapaense, onde debutaram fanáticos como Aureliano de Moura, e os conflitos isolados envolvendo Teodoro Mendes e Manuel Buarque, foram alguns movimentos que quebraram o silêncio da pacata vila.

Na contemporaneidade a cidade virou Cinderela, através da lavra poética de Aracy Mont’Alverne. O Igarapé das Mulheres – onde as senhoras e as moças iam lavar a roupa – passou a ter também outras lavagens. Aí as notícias do lado feminino corriam, e eram complementadas por outras que chegavam com os canoeiros que vinham da região das Ilhas do Pará, e as repassavam à população.

Os cavalheiros dispunham, por sua vez, do Clip Bar, em frente ao Merca do Central onde, entre mingau de café e outro de aguardente, contemporaneizavam os fatos, e toda a cidade se contagiava das novidades.

Surge o Macapá Hotel, local cativo da mocidade que ali se encontrava nos finais de semana. Os amores subterrâneos começam a emergir na superficilidade das pedras do quebra-mar, que lavou, muitas vezes, as primeiras experiências de delírio íntimo da mocidade. A esse tempo o “titio” Alcy já tinha trocado de cais, adotando Macapá como porto seguro.

As ondas do mar amazônico contagiavam e tamborilavam no movimento musical de Walkyria Lima e Mestre Oscar, que musicalizavam as mensagens poéticas dos artistas locais. Mestre Waldemiro Gomes, com suas sereias e botos, estava a enfeitar o imaginário popular do caboclo.

O “Jornal Falado E-2”, da Rádio Difusora de Macapá, passou a ser a âncora dos noticiários locais, onde Pedro Silveira, Edivar Mota, Edna Luz,José Machado, Terezinha Fernandes e Carlos Garibaldi, entre outros, dividiam audiência.

Quem não teve oportunidade de se deliciar do gostoso tacacá de dona Bebé e dona Lucy? Qual foi a família macapaense que, até aos anos 50, não teve membro nascido das mãos de Mãe Luzia ou Vó Guardiana?

Nas doenças da população o mestre Sacaca era o médico popular, que dividia sua sabedoria empírica com o seu reinado de Momo, para fabricar suas famosas garrafadas.

As piadas do Genésio ainda têm sabor brejeiro, e ficarão imortalizadas através do imaginário popular, assim como o amor nativista e patriótico do tenente Pessoa. No calçadão do canal da Mendonça Junior ainda sentimos a presença do dr. Ivanildo Pessoa, o advogado dos pobres e das meninas desamparadas que exerciam seu trabalho no Bar Caboclo.

O professor José Benevides lecionava latim para os padres velhos e língua portuguesa para os padres novos, do Pime. Dom José Maritano divide agora a preferência popular com Dom Aristides. O cais da doca da Fortaleza deu passagem ao quebra-mar, onde até hoje os passeios vespertinos e noturnos acontecem.

Tudo isso agora é saudade submersa, que agora são reminiscências subterrâneas dos bons tempos desta cidade morena.