quinta-feira, 4 de agosto de 2011

AMOR UNIVERSAL





O amor é a luz da alma e o fogo do espírito, consumido na grande pira universal.
Não é substância encapsulada em alguma redoma,
intransponível, inacessível...desligada de tudo e do todo.
Como o lótus, ele está presente no lodo do mundo, 
como que mostrando a todos, a substância
que o fogo interior, místico, profundo, será sempre uma luz permanente
desafiando os medrosos, e abrindo caminho àqueles que querem
seguir sua luz.


O amor é o estado híbrido onde se harmonizam a compreensão, 
o conhecimento e a Sabedoria... 
é um Norte em movimento...
ou de noite... ou de dia...
vassalo permanente da emoção, sem muito alarde com a razão.
Ele pode ser o primeiro relacionamento puro, onde transitam, 
seja no escuro, ou no obscuro,
seja num misto de ilusão ou verdade, a Unidade e a Dualidade.
Não está somente no domínio do Espiritual, pois ele precisa da práxis, do real...
para ascender o contorno universal.

Na lida do labor cotidiano, Mesmo que provoque algum dano,
no contato dos amantes... seu prazer não está nos limites do reter...
pois não é mensagem tênue e sem nexo...
nem tampouco se contamina com o sexo.
Não é auto-suficiente, em nenhum momento...
Só sobrevive quando prescreve o incondicional.
Não está aprisionado nos pressupostos da lógica...
pois às vezes lança, aos amantes, seus chicotes lancinantes
de fogo e brasa...


Às vezes, como uma geada, entra nos corações para apagar
 as chamas dolorosase catalisar as feridas...
tal qual o contato dos dedos do músico nas cordas afinadas de uma lira.
Assim, como chama, ele arde... como vento ele sopra...,
e o amante sente a força... e delira.
O objeto do amor universal é lancinante...

Como flecha retesada de um arco, ele atinge o coração mais delirante...
e se outro coração vem ao encalço, escancaram-se os portais, 
e num encontro sem egoísmo...
eles se unem.... amor enlaça, e todos vivem, em absoluto...
um Estado de Graça.
Espontâneo, ele não admite relatórios.
Essencial, não prescreve purgatórios.

Magistral, jamais admite, do astral, lamentos veros.
Não está conectado aos portais da dúvida, pois para
quem ama responsavelmente não existe o vacilar dos sentimentos.
Amor não é paixão de um só momento.
Amar: permanecer sempre em relevo...
e ter, com a Verdade, grande acervo.
Sendo universal, não pode ser aprisionado e quem 
se sente prisioneiro de um amor...
Não percebeu que a distancia agora reina...
e a paixão entrou em cena...
e assim, sorrateiramente, ele partiu, sem medida, sem ter que admitir a despedida.
Amar é transitar entre o fogo e a paixão...
É resistir aos granizos, tempestades, tsunames...
É sair vitorioso, inquebrantável, pois quem sente
o verdadeiro amor está muito longe do cinismo...
da infidelidade, do egoísmo...

Planando ou mergulhando em mil abismos, e refazer-se sempre, 
alçando vôos, feliz, em cambalhotas, sorrindo sem definição de rotas.
Quem ama não sofre, pois o amor está bem longe dos apegos...
E quem vive a recitar amor-paixão, percebe que tão longe... é bem verdade,
não podem transitar, num mesmo diapasão...
... um recitar de um verbo sem conjugação.

Amor transita em todos estes seres...
neste planeta azul, que a paz colore...
e faz catalisar força ciclópica, transformando a paixão,
 que era treva,na grande sensação caleidoscópica.
Amar é conjugar o Humano e o Divino na pauta musical da Unidade.
Amar é reagrupar dores eternas, magistrais...

Tornando-as sentimentos sazonais.
Amor não discrimina nenhum ser...
Nem potencializa Bem ou Mal.
É canção permanente de emoção,
e não uma mensagem trivial...
É centelha intermitente da Ternura Universal!

terça-feira, 26 de julho de 2011

Nossas opiniões


Quantas vezes fazemos um juizo baseados numa opinião? Em quantas ocasiões podemos estar certos em sermos sinceros? Para falar a verdade, raríssimas vezes. Quase todos nós julgamos muito superficialmente, sem levarmos em conta os fatores internos e externos que atuam sobre nossas resoluções. Se transferimos a alguém certo traço de caráter, podemos estar certos de que o fazemos em nossa pessoas. A nossa simpatia pelas outras criaturas depende do grau em que elas se parecem conosco, sob o ponto de vista psicológico.

Fazemos uma imagem de uma pessoa comparando-a conosco, tendo em vista as nossas aspirações ou os nossos ideais, simpática ou antipágica. Nada mais longe da imparcialidade do que isto. E os fatores externos? Falamos mal de alguém na sua presença? Por mais alegres que estejamos, rimos à beira de um sepulcro? E mesmo numa atmosfera carregada de partidarismo exagerado e pernicioso, ousamos demonstrar as falhas e injustiças?

Portanto, nada mais exagerado e incerto do que ouvir uma opinião como sendo uma resolução partida da alma e isenta de parcialidade. Consciente ou inconsciente, ninguém é neutro em assunto algum. Devemos tomar partido e, violenta e suavemente, lutar por eles? Como as idéias nos influem? Como aceitamos uma e repelimos outra? A resposta está na formação de nossa personalidade. Nesta formação o ambiente é fator importantíssimo. Se a uma criança são exaltados os direitos da força e a ambiência o reforçando, podemos imagina-la crescida, lutando pela força do direito? A um homem provinciano e educado sobre os princípios religiosos, podemos conceber e admitir sinceramente os costumes licenciosos de nossas grandes metrópoles?

Se compreendemos quanto são tantos e variados os fatores que fazem alterar uma opinião, por que acatar ou criticar com tamanha vivacidade qualquer coisa? Desconfiemos, portanto, dos nossos pré-julgamentos sobre as nossas necessidades e descubramos os motivos ocultos que nos levam a faze-los. A grande maioria julga que ter a opinião de ouvir o que uma pessoa, compreende justo e certo numa coisa ou criatura. Não há dúvida, isso em parte é verdade. Mas o que julgam certo é que a reunião de várias opiniões comprova que certo fato é verdade ou está errado.

Somente o que isso pode provar é que os julgadores estão mais ou menos em igualdade de preconceitos. Se, como queremos demonstrar, as opiniões não são frágeis, e seus pontos de apoio são fáceis de destruir, como não serão os atos que derivam dos juízos e opiniões? Em vista disso, não afirmamos categoricamente sobre a questão profundamente, levanto sempre em conta a relatividade do juízo, a forma. Eis uma maneira de encarar a vida que nos facilitará chegar à compreensão da Ciência da Natureza e nos suavizará o caminho pela vida. (Publicado no Jornal do Dia, edição de 18 de julho de 1991)

domingo, 3 de julho de 2011

Parar para não pensar


Esta é a sina do homem moderno. Não parar, correr, correr sempre, porque parando talvez pense em algo que não adianta pensar; e não irá o homem, decerto, mudar o mundo. Pensar no estranho fim de Kennedy, Luther King, Gandhi, Vinoba. Pensando, quiçá, não o aceite e se revolte e, sentindo que não adianta revoltar-se diante do inevitável, talvez chore, e um homem não pode chorar... (será que não? Somente crianças choram?).

É preciso correr... correr para o trabalho, correr para casa, ligar o televisor, sofrer pelas visitas de cobradores e não ter o que pagar a eles... tomar um trago. É preciso embotar o cérebro de algum modo; com qualquer coisa que não seja pensar. O lema atual é não parar para não pensar... para não chorar. Há tanta coisa no mundo que não se pode compreender. Não compreendemos, embora tentemos, por que aquele homem que numa briga matou outro, foi preso, enquanto que outros, na guerra, atiram bombas num contingente de soldados, que nem os tinham visto, e foram eles condecorados. E os chamaram de heróis. Foi um crime premeditado, e na tocaia, como covardes,eles mataram uma centena e não foram presos.

Quanta coisa foge à nossa compreensão. Já existem condições tecnológicas de se fazer transplante de um coração novo em um homem velho; entretanto, milhares de corações crianças param, porque os corpos que os envolvem não receberam alimento suficiente. Outros param porque os hospedeiros, cujos corpos os envolvem, não querem vê-los nascer. E tu, mundo, que giras, giras... também não podes parar? Então, por que não giras depressa, como o homem? Não evolues? Levas 24 horas em teu passeio diário como no tempo de carro-de-boi, da pedra lascada. Vê: estamos na era do jato, do foguete... na era da pressa. Acaso pensas que girando, assim devagar, alguém vai olhar calmamente o nascer de teu sol? Não,não tenha ilusões. O homem não tem mais tempo para isso.

Ele vive correndo, correndo, atrás de algo que nem mesmo sabe, ou atrás de nada. E, quando olha para o céu, nem vê sua lua de prata, não. Ora, uma lua obsoleta, antiquada, “coroa”. Olha, sim, o satélite feito por ele. Gira, gira mundo... Mas gira bem depressa, porque assim devagar podes, sem perceber, parar de olhar e não compreender o que os homens fazem em tua face, que é tão linda, que tem tanto para se admirar. Como o homem, tu não podes parar pois, se parares, talvez penses e, pensando... talvez chores.

domingo, 1 de maio de 2011

Nosso cotidiano


Solitário, na rua deserta, o transeunte vai. Cantarola um samba do Benito Di Paula. De seu sorriso frívolo, a sensação de paz com a vida, na tarde que se vai pelas entrelinhas do sereno que chega. Seus vencimentos, fruto de duas semanas de árduo trabalho na construção civil, cujo suor lhe escorrega todas as vezes que levanta o pesado fardo de cimento às costas, estão no bolso.

Passa no bar, experimenta um gole da “geladinha” e, de posse do cigarro, projeta-se em direção à casa. Pensa com seus botões: o que devo comprar à Margarida? Uma camiseta? Mas ela já tem duas, compradas na liquidação da loja da doca mês passado. Ah, sim! Um sapato. E para Helena e Suely? Suely, a mais nova, faz anos na semana que vem, e é preciso comprar o material do bolo de aniversário.

Pega uma garrafinha de xarope de guaraná, e o material. Tudo fica arranjado. Tudo bem. Uma pasta escolar à Heleninha, e à Suely uma merendeira, a tão cobiçada da loja da esquina. Como vêem, tudo arranjado. Só falta combinar com a “patroa”. E ele caminha.

A lua está se escondendo. Os primeiros pingos de chuva de inicio de noite, anunciam com gestos taciturnos os desvios climáticos. Colchões de espuma e nuvens densas já estão tomando a forma compacta e a cor pluvial.

Cruza o transeunte solitário a primeira esquina, e eis que tudo acontece de repente: apenas dois minutos são suficientes para destruir a vida de um trabalhador. Rápidos, baixos, grosso, os assaltantes roubaram os bens do pobre transeunte e acabaram com sua vida, sem deixar pistas.

As trevas provisórias da noite já se dissiparam e infiltraram os primeiros clarões do dia. A casa em pânico; as mulheres desesperadas pela tragédia que se abateu sobre a família, que não tem como se manter. O homem agora é corpo estendido no asfalto, esperando a boa vontade da Polícia Técnica. O assalto foi cumprido e consumado. A viúva, agora, está amargando e experimentando a sua viuvez, juntamente com duas filhinhas que entram agora para o “debut” da orfandade paterna. O futuro, para elas, que moram na periferia, é incerto. Talvez uma vá se “iniciar” na prostituição. Outra,quem sabe, tenha a oportunidade de trabalhar como empregada doméstica.

A manchete do jornal estampa, na ultima página, o fato ocorrido... e a vida continua.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Uma lição de Confucio


Confúcio, em chinês Kung-Fu Tse, foi um grande sábio do Oriente. Nasceu presumivelmente, em 551 AC, e faleceu em 478 AC. O respeito extraordinário de que gozava, durante sua vida, fê-lo converter-se, mais tarde, em veneração pública. Originariamente o confucionismo não era uma eligião, mas uma moral familiar, social e estatal, fundada no respeito, amor e obediência. São célebres no mundo todo os aforismos e as lições de Confúcio, atravessando tempos e permanecendo sempre atuais.

Certa vez ele passeava com seus discípulos, quando deparou com uma mulher que chorava amargamente ao pé de um túmulo, no qual estava o corpo de uma criança todo disforme. O sábio chinês apressou os passos em sua direção e mandou que um de seus discípulos o enterrasse.

-- Sua lamentação – disse ele à mãe do menino morto – é a de quem sofreu infortúnio após infortúnio. – E a mulher respondeu:

-- É isso mesmo! Certa vez o pai de meu marido foi morto aqui por um tigre. Aconteceu o mesmo com o meu marido, e agora meu filho morreu do mesmo modo. Estamos sempre com esse fantasma da morte rondando nossas aldeias. É muito sofrimento. Passamos horas e horas sem sono, ou fazendo revezamento para que um dos nós, pelo menos, fique acordado em razão da possibilidade desses tigres aparecerem, e cada vez mais vorazes.

O mestre passou a fitar aquela senhora e os que a acompanhavam, bastante amedrontados. Pensou, refletiu. De repente, com a voz calma e macia de sempre, interrogou a mulher:

-- Já que sua gente está sendo ameaçada pelos tigres, causando todo esse transtorno, por que você não deixa de vez este lugar? Vá ver se encontra outro lugar, cultive a terra, edifique uma casa ou duas, e passe a alojar seus parentes lá!

A mulher, sem pensar muito, respondeu ao mestre chinês:

-- Não podemos sair deste lugar, porque aqui não há governo opressor.

Iluminado, o mestre dirigiu aos seus discípulos e falou com bastante sabedoria:

-- Lembrai-vos, meus filhos: um governo opressor é mais terrível do que os tigres!