segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Cotidiano


Seis horas da tarde. A noite vinha descendo, encerrando mais um belo dia. Ela, comodamente instalada, observa sem que seus anseios de grandeza nada tivessem acrescentado ao mundo, tão sedento de soluções que sempre lhe pareciam fáceis de aplicar aos problemas universais.

Percebia, no entanto, que seu desejo de escrever, de resolver com caneta a eterna e imponderável inquietude humana, eram vãos, assim como as esperanças de uma juventude entusiasta, filha da experiência que, quando amedrontada, provoca uma complexidade longe de aceitar soluções exclusivamente altruístas e destituídos de significação racional e tradicional.

Talvez (sorri ao ver que ainda lhe sobram esperanças) nunca fosse possível solucionar completamente o difícil problema da felicidade do homem sobre a face da terra. Mas o que sempre a consolava era a certeza de que as idéias, em todo sos tempos, foram precursoras das realidades fecundas.

Nada é feito sem que primeiramente germine a idéia. Os pensamentos, essa realidade que a Ciência demonstra e procura, não eram estéreis no sentido humano, como em momentos de desânimo quase se convencia. Valia a pena pensar. Valia a pena escrever. Mas como trazer “algo de novo” ao mundo? Escrevendo. Escrever o que? Nenhum ramo do conhecimento lhe parecia tão completo, tão extraordinário, como o queriam suas ambições. Sim, quem sabe? Não seriam todas essas insatisfações resultado de sua vaidade faminta? Ela sentia-se desprezível. Se nem idéias tinha, como querer escolher sobre o que dirigir sua questão.

O mais sensato era jantar, pois estava com fome, e já estava na hora.

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