Frederico Garcia Lorca, poeta espanhol, queria o verde bem verde e morreu fuzilado pelos homens de Franco, em 19 de agosto de 1936. O verde do mundo está recebendo o mesmo castigo, apenas porque é paz e tranqüilidade, num mundo em que a violência está vencendo. Drummond, o poeta de Itabira, lembrou-nos um dia que “havia paz nos picos históricos de Minas, enquanto havia picos históricos em Minas”. Do jeito que vão as coisas, poucos picos ou montanhas sobrarão no Brasil-Sudeste, pois são muitas as empresas que irão revolver seu solo à cata de minérios.
Talvez, no final, as montanhas sejam apenas colinas suavemente ondulados ou, quem sabe, no final, no final mesmo, simplesmente um monte de escombros. Verde é uma mensagem de bondade e paz, e o mundo anda bem carecido de bondade e de paz.
Drummond está triste, mas que importa ao mundo um poeta triste? Dizem que não há homens maus ou bons, felizes ou infelizes. Há homens poderosos infelizes, talvez por inveja da felicidade dos outros, vingando-se do mundo com sua maldade. Poetas não, poetas são seres à parte. Para um poeta, mais vale uma montanha coberta de árvores com passarinhos cantando à volta, do que o manganês das montanhas de Serra do navio; mais vale o pôr-do-sol dourando momentaneamente as tardes, encantando o mundo, do que o manganês extraído das jazidas do Amapari, que desperta a cobiça dos homens comuns, mas não empolga seres especiais como “titio” Alcy, nosso poeta do cais, ou a “tia” Aracy Mont’Alverne, a poetisa iluminada pelas “Luzes da Madrugada”.
Poetas infelizes, cheio de mágoas, envolvem a terra de uma ternura que dá colorido ao mundo. E das noites de lua-cheia, mesmo os homens meio empoeirados sofrem o reflexo da luz, revolvendo alguma mágoa antiga, em recanto escondido de seu coração. Então, a tristeza de Pablo Neruda os envolve como os raios prateados da luz:
“Yo podria escribir los versos
mais tristes esta noche
porque em las noches como esta
y ola tuve entre mis brazos.
Hoy ella no está comigo!”.
É bom que os poetas sofram? Mas num mundo sem poesia como o nosso, eles tendem a ir se extinguindo, gradativamente, por falta de inspiração e motivo. Quando acabarem as últimas florestas, e não houver pássaros saudando o sol da manhã, nem águas cristalinas descendo as encostas, os poetas morrerão por falta de seu oxigênio ambiental e inspirativo.
Aí, não será mais preciso que os fuzilem dentro da noite, na noite eterna de Espanha.
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